Atenção
FecharO depósito de sal-gema capixaba, descoberto há 26 anos e considerado o maior do País, é avaliado em 19,4 bilhões de toneladas. Isso equivale a uma concentração de 17,1 bilhões de toneladas de cloreto de sódio, o que corresponde a 68% das reservas oficiais de sal-gema brasileiras, segundo geólogos da Petrobras.
A localização da área é privilegiada. É a única reserva do mineral conhecida na região Sudeste, próxima, portanto, dos estados mais indus-trializados, demandantes do sal marinho (salina), atualmente produzido principalmente no Rio Grande do Norte, responsável por 80% da oferta nacional. A distância mais curta da fonte de produção torna o frete mais atraente e já desperta o interesse de algumas empresas nacionais e estrangeiras, segundo o engenheiro Moacir Deosdato, da Unidade de Sergipe e Alagoas (Un-Seal) da Petrobras.
Formação de pólo químico
É grande a expectativa em torno da formação de um pólo industrial químico no norte capixaba para aproveitar a proximidade com a reserva de sal-gema. Na Região Nordeste, por exemplo, a Braskem dispõe de duas plantas de cloro-soda. A Dow Química tem uma indústria em Aratu (BA). Em São Paulo há outras usinas de cloro-soda, como a Carbocloro e Eletrocloro do grupo belga Solvay, que recebem o sal sólido vindo do Rio Grande do Norte.
Enquanto isso, a equipe da Petrobras dedica-se ao cumprimento das exigências feitas pelo órgão ambiental do Espírito Santo para a licença de uma planta de exploração da área. O maior obstáculo - hoje já superado - estava ligado ao fato de a jazida estar situada numa área de proteção ambiental, coberta por vegetação de restinga, em Conceição da Barra.
Diante dessa restrição, o projeto foi reformulado. E a saída encontrada para contornar o problema foi a instalação da planta e toda a estrutura do processo de extração fora dos limites da área preservada. Para isso, a futura base deverá ficar sediada num terreno vizinho, usado para o plantio de eucalipto, de propriedade da Aracruz Celulose, segundo Deosdato. 'Essa localização tem como objetivo preservar a integridade da área protegida de forma a atenuar eventuais impactos ambientais ou interferências diretas.'
A planta, em processo de licenciamento, perfaz uma área total de 297,5 mil m². Sua capacidade nominal será de 3,5 milhões de m³ por ano de salmoura, equivalente a 1 milhão de toneladas por ano de sal contido, gerada pela abertura de 22 poços-mina. A vida útil de cada poço foi estimada pela Petrobras em 20 anos. O método de lavra a ser utilizado é o da mineração por solução, procedimento no qual é feita a injeção de água potável na camada de sal do poço, revestido com aço.
A escolha dessa tecnologia, explicou Deosdato, traz como vantagem a lavra de jazidas a grandes profundidades (em torno de 1,2 mil metros) e com baixo custo de produção do sal, além de propiciar a obtenção do produto com elevado grau de pureza. O projeto, em princípio, produzirá apenas salmoura com alta concentração de cloreto de sódio e não sal cristalizado. No futuro, a tendência é produzir sal em estado sólido, usando processos para acelerar a evaporação da água.
A salmoura será bombeada e transportada até navios, por meio de um duto subterrâneo, com oito quilômetros de extensão e diâmetro interno de 16 polegadas - feito em poliéster e reforçado com fibra de vidro. A tubulação deverá estender-se dos tanques de salmoura da planta de mineração até uma monobóia, a três quilômetros da costa. Será possível o abastecimento de um navio de cada vez, com capacidade de 15 mil toneladas.
Soda cáustica é importada
O aproveitamento comercial do sal pela indústria química resulta na produção de soda cáustica, uma substância que o Brasil ainda importa para atender à demanda interna. Outro produto gerado no processo é o cloro gás, que é letal, mas pode ser usado pela indústria, como ocorre em Maceió, para atender as fábricas de PVC. Além desses usos, o sal pode ser consumido pelo homem e por animais.
Depois de licenciado, Deosdato informou que a área de Novos Negócios da Petrobras decidirá qual será a modelagem a ser adotada para fazer o aproveitamento econômico da reserva capixaba. Entre as alternativas em estudo está a de estabelecer uma sociedade com empresas privadas, arrendar ou, até mesmo, alienar a área. Outro caminho, com menor chance, seria a empresa criar uma subsidiária para gerir o novo negócio sozinha. A decisão, porém, caberá aos integrantes do conselho de administração da Petrobras.
Márcio Bastos, coordenador de equipe da sub-gerência de Avaliação do Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), está otimista quanto à obtenção de um sinal verde para a exploração por parte da Petrobras. 'O processo, entretanto, encontra-se em análise', diz. A licença só deverá sair no próximo governo.
Fonte: Gazeta Mercantil
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Publicação: 12/12/2002